Repórter Jota Anderson
A série de intoxicações por metanol que já deixou ao menos onze vítimas no Brasil levantou um alerta nacional sobre o risco das bebidas falsificadas e colocou as autoridades de saúde e segurança em estado de mobilização. A principal suspeita é de que o produto químico, altamente tóxico, tenha sido usado na limpeza de garrafas reutilizadas por fábricas clandestinas.
A Polícia Civil de São Paulo apura se quadrilhas especializadas em falsificação de bebidas estariam utilizando metanol — um solvente industrial e combustível — para desinfetar garrafas de destilados como vodca, gin e uísque. Segundo os investigadores, o líquido residual, mesmo em pequenas quantidades, pode causar intoxicação grave e até a morte quando misturado à bebida consumida.
As apurações indicam que garrafas originais descartadas em bares e restaurantes estariam sendo coletadas e revendidas a fábricas ilegais. O processo de limpeza irregular, possivelmente com metanol, deixaria resíduos no recipiente antes do envase da bebida falsificada.
As primeiras ocorrências foram registradas em São Paulo, mas casos semelhantes já foram confirmados em Pernambuco e no Distrito Federal. A partir das vítimas, policiais refizeram o trajeto das bebidas consumidas até chegar às distribuidoras e, posteriormente, às fábricas clandestinas. Nenhum suspeito foi preso até o momento, e a origem do metanol ainda é desconhecida.
O metanol é uma substância usada em solventes, combustíveis e produtos de limpeza industrial. No organismo humano, causa danos severos ao sistema nervoso central, podendo levar à cegueira e falência múltipla de órgãos. Segundo toxicologistas, a ingestão de 10 mililitros já é suficiente para provocar sintomas graves como dor de cabeça intensa, tontura, náuseas e dificuldade para respirar.
Autoridades de saúde recomendam que consumidores evitem bebidas de procedência duvidosa e desconfiem de preços muito abaixo do mercado. A Anvisa e o Ministério da Justiça estudam reforçar campanhas de conscientização e ampliar a fiscalização de bebidas alcoólicas em todo o país.
Na quinta-feira, após as mortes associadas à presença do solvente serem confirmadas em São Paulo, Pernambuco e no Distrito Federal, a Câmara dos Deputados acelerou a tramitação de um projeto de lei que torna crime hediondo a adulteração de bebidas alcoólicas ou alimentos.
A proposta, apoiada por diferentes bancadas, prevê penas mais severas e o endurecimento das regras de fiscalização. Parlamentares afirmam que o aumento dos casos de intoxicação evidencia a necessidade de uma resposta rápida e exemplar por parte do Estado.
Dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF) indicam que o número de fábricas clandestinas interditadas no país saltou de 12, em 2020, para 80 em 2024 — um aumento de mais de 560%. O avanço revela a expansão de um mercado paralelo que ameaça não apenas a economia formal, mas a segurança alimentar e a saúde pública em todo o país.
Quer ficar ligado de tudo oque rola em Casa Branca e região? Siga o perfil do Jornal Gazeta de Casa Branca no Instagram e no Facebook