Repórter Jota Anderson
Eis o título da obra da renomada psiquiatra forense Hilda Morana. Publicada pela Editora Sparta, em 2024, reproduz – com retoques e ajustes – a tese apresentada pela autora, em 2003, na Faculdade de Medicina da USP, para a obtenção do doutorado em Ciências. Tem por subtítulo Diferença entre psicopatia e traços disfuncionais da personalidade.
Nesta sua pesquisa, a médica avaliou 86 indivíduos – todos do sexo masculino – assim divididos: a) 33 diagnosticados como Transtorno Global da Personalidade (TG), isto é, psicopatas (descritos nas pp. 12-55 da obra em foco). b) 23 diagnosticados como Transtorno Parcial da Personalidade (TP), ou seja, pessoas com transtornos antissociais, mas que não preenchem os critérios para a psicopatia (cf. pp. 150-152). c) 30 casos de homens não criminosos (NC), portanto nem TG, nem TP, como Grupo Controle.
Valeu-se a Dra. Hilda, em sua pesquisa de cinco anos em diversos presídios, da chamada Prova de Rorschach e do PCL-R (Psychopathy Checklist-Revised). Diga-se que a Prova de Rorschach, criada por Hermann Rorschach, em 1921, é um teste projetivo com 10 pranchas de borrões de tinta simétricos. O paciente interpreta as imagens, e o psiquiatra, em seguida, avalia suas respostas, analisando a percepção da forma, cor e movimento a fim de traçar, assim, um perfil psicológico e identificar desvios no examinando. Já o PCL-R, criado por Robert Hare em 1980 e revisado em 1990, é uma ferramenta de 20 itens para avaliar a psicopatia. O psiquiatra afere o indivíduo por entrevista e análise do histórico de vida com a finalidade de pontuar traços específicos que confirmem o diagnóstico.
Para o uso validado da Escala de Hare no Brasil, a autora diz o seguinte: “Optamos pela validação através da identificação do ponto de corte do PCL-R em população forense brasileira com auxílio da Prova de Rorschach. Desta forma, os casos diagnosticados como TG, de acordo com os instrumentos utilizados na pesquisa, e que apresentam aspectos comuns apreendidos pela Prova de Rorschach, preencheram os parâmetros para psicopatia na escala de Hare PCL-R. Desta forma, verificou-se a hipótese de que os transtornos globais da personalidade apresentam relação com o constructo operacionalizado como psicopatia, através da escala de Hare PCL-R. Estabelecida a correlação entre transtorno global e psicopatia, o passo seguinte foi o de investigar a possibilidade de se detectarem diferenças entre este grupo e o dos transtornos parciais da personalidade, através da PCL-R. Determinada a correlação entre ambos os constructos, é possível a identificação do ponto de corte para psicopatia na escala PCL-R em população forense brasileira” (p. 73). Estava, assim, validada a Escala de Hare no Brasil.
Isto posto, indaga-se: Qual é, então, esse ponto de corte? Robert Hare assim o estabeleceu: 1) Abaixo de 20: não psicopatas. 2) Entre 20 e 29: psicopatas moderados. 3) 30 ou mais: psicopatas (cf. p. 156). Na pesquisa da psiquiatra brasileira, a pontuação foi esta: a) Não criminosos (NC): 0-12. b) Transtorno Parcial (TP): 12-23. c) Transtorno Global (TG): 23-40 (cf. p. 171).
O importante trabalho da Dra. Hilda Morana de validar a Escala de Hare para o Brasil vai além. Visa, se bem aplicado por profissionais competentes, revolucionar, no bom sentido do termo, o modo como é hoje distribuída a população carcerária brasileira: psicopatas e não psicopatas ficam juntos. Logo, os primeiros manipulam os demais. Ora, sobre isso lê-se no livro em comento: “A atual direção da Secretaria da Administração Penitenciária tem por critério a separação de condenados por tipo de delito. É neste sentido que o trabalho tem relevância, sendo possível através da aplicação do PCL-R separar os psicopatas do convívio com os criminosos comuns” (p. 169).
Sinceros parabéns à autora!
Por: Vanderlei de Lima é professor. Graduado em Filosofia (PUC-Campinas), pós-graduado em Psicopedagogia (UNIFIA-Amparo), pós-graduando em Psicologia Criminal Forense (Faculdade Iguaçu-Capanema) e escritor.
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