Repórter Jota Anderson
Nos dias 30/09 e 1º/10 último, estive em São Carlos ministrando uma Formação sobre “Transtornos psíquicos e Psicopatia” aos policiais militares que integram a Força Tática e a Rocam do 38 BPMI.
Penso que tratar deste tema é muito importante. Afinal, são os PMs aqueles que primeiro se defrontam com pessoas em surto psicótico paranoico ou psicopatas nas ruas das nossas cidades. E precisam, na maioria das vezes, agir rápido. De que modo tento, então, ajudá-los nisso? Procuro, não obstante as nuances complexas do tema, distinguir o que são transtornos psíquicos graves (sinônimo de doença mental, em uma concepção didática de abordagem) daquilo que é a psicopatia (sinônimo do mau caráter dos “predadores sociais”).
Sem descer a tantos pormenores, neste pequeno artigo, devo lembrar que a possibilidade de alguém com transtorno psíquico grave cometer crimes é baixíssima. Menos de 1% (cf. Mente que mata. Superinteressante, 31/10/2016, on-line). Via de regra, fora um surto psicótico paranoico, de causa crônica ou momentânea, essas pessoas precisam da atenção de todos; não do medo e do infeliz preconceito contra elas. Os portadores de transtornos psíquicos graves são muito mais vítimas de agressões do que agressores. Via de regra, ao atacar alguém, pensam, sob o comando de vozes alucinatórias, estar “se defendendo” de um inimigo real.
Outro é o quadro dos psicopatas. Estes, ao contrário das pessoas com transtornos psíquicos graves – facilmente perceptíveis, porque deliram e alucinam –, agem de modo muito dissimulado. Estão por aí cometendo contravenções penais ou crimes diversos sem serem percebidos. O mau caratismo de um verdadeiro ator que ri ou chora, conforme as conveniências, os torna anônimos na multidão. De acordo com a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, cerca de 3% dos homens e de 1% das mulheres são psicopatas em algum grau (leve, moderado ou grave) e vivem entre nós (cf. Mentes Perigosas. São Paulo: Principium, 2018, p. 60). Daí a pergunta: 4% é muito ou é pouco? – A resposta depende de um olhar em nível mais restrito ou mais amplo.
Com efeito, ter 4% de psicopatas entre nós não parece um dado alarmante. Afinal, a imensa maioria das pessoas (96%) não ofereceria risco sério a quem quer que seja. Entretanto, em nível amplo, tome, leitor(a), a população de São Carlos, que é de 266,427 (cf. Censo IBGE 2025: População cresce em Araraquara, Rio Claro e São Carlos; veja os números. G1, 30/08/2025, on-line), e aplique a ela a porcentagem de 4%. Merece atenção ou não?
De minha parte, enquanto modesto estudioso, o que proponho aos comandantes da Polícia Militar é uma Formação ou Aula (a terminologia não me importa) sobre o tema aos respectivos efetivos. Na realidade, não só sugiro. Eu insisto – e bastante até – para que a tropa passe por essa Palestra, pois sei da sua importância aos PMs e também a você e à sua família naquilo que dependem da Força Pública no quesito segurança. Afinal, como garantir quem será a próxima vítima de um (a) psicopata nas próximas horas? Ainda que não se deva, em um medo doentio, sair por aí psicopatizando os outros, também não podemos menosprezar esses perversos, pois eles existem e por onde passam fazem estragos sérios.
Desejo, pois, agradecer a acolhida dos PMs da Força Tática e da Rocam do 38 BPMI. Posso assegurar, a partir do interesse demonstrado na Formação, que é uma tropa diferenciada no melhor sentido do termo. O Batalhão está bem servido. Parabéns!
Prezado(a) leitor(a), informe-se também sobre o assunto. Sem pânico, mas com interesse inteligente e altruísta. Conhecer o modo de ser do psicopata (covarde que não enfrenta quem se antecipa à sua maldosa forma de agir) salva vidas: a sua e a de quem você ama. Não hesite. Faça parte da maioria desejosa do bem de todos e apoie o bom trabalho da PM.
Por: Vanderlei de Lima é autor do livro Psicopatas: Quem são? Como agem? Que fazer com eles? (Ed. Benedictus) a sair em breve.
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