A imprensa noticiou que os irmãos Lyle e Erik Menendez, assassinos confessos dos próprios pais, em 1989, e, por isso, condenados, em 1996, à prisão perpétua, nos Estados Unidos, tiveram, nos dias 21-22/08/2025, seus pedidos de liberdade condicional negados pela Justiça. Relembremos brevemente o caso.
Os irmãos Menendez, que se tornaram sinônimo de um dos crimes mais chocantes e midiáticos da história norte-americana, são frequentemente lembrados pela reviravolta em seu julgamento. A narrativa que eles construíram para a opinião pública – a de dois jovens traumatizados, vítimas de um abuso brutal nas mãos dos pais – escondeu a verdade de seus atos por certo tempo. Todavia, a realidade do caso, revelada por meio de evidências e da análise forense, traz um quadro muito diferente daquele retratado pela defesa.
Lyle e Erik, desde a adolescência, exibiam um comportamento estranho, muito longe de serem as vítimas inocentes que se apresentavam à Justiça. Registros mostram que eles se dedicavam a pequenos roubos, falsificação de cheques e também a furtos, movidos por um senso de privilégio e impunidade. “Somos ricos, nada vai nos acontecer”, pensavam. Não eram oprimidos, mas predadores que, com a mesada generosa e a vida de luxo, em Beverly Hills, cultivaram um desejo por mais status, poder e prazer.
No dia 20 de agosto de 1989, a farsa de ambos caiu por terra após um ato de violência brutal. Os dois irmãos entraram na mansão da família e assassinaram seus pais, José e Kitty Menendez, a sangue frio. Eles foram alvejados múltiplas vezes com tiros de espingardas calibre 12. Uma cena de horror que não deixava dúvidas sobre a intenção bem determinada dos assassinos. Depois, ambos tentaram disfarçar o crime. Seria ataque da máfia, diziam. Mas, longe de ficarem tristes, esbanjavam a riqueza dos pais com carros esportivos, viagens e relógios caros.
Por fim, a confissão de Erik a seu terapeuta chegou à Polícia. O julgamento judicial teve ares de espetáculo. Orientados por uma equipe de advogados de defesa, que explorou cada brecha legal e emocional, os irmãos Menendez inverteram o papel de criminosos para o de vítimas. Contaram histórias detalhadas de abuso sexual e psicológico, apresentando-se como infelizes sobreviventes a agirem em legítima defesa, impulsionados pelo medo de novas agressões.
De início, a estratégia funcionou, resultando em um impasse do júri. A comoção pública foi imensa. Mas a farsa era insustentável. No segundo julgamento, porém, sem a permissão para que as câmeras de televisão acompanhassem os depoimentos, o teatro da defesa perdeu força. A promotoria apresentou evidências do comportamento psicopático dos irmãos: ausência de remorso após o crime, premeditação meticulosa e falta de empatia. A ideia de que o assassinato fora um ato de autodefesa facilmente se desfez ante as provas de que os irmãos viviam confortavelmente e usufruíam da fortuna dos pais.
Com isso, a tese da defesa de que eram vítimas de abuso não se sustentou diante dos fatos e da frieza com que agiram. A análise do comportamento de ambos, tanto antes quanto depois do crime, aponta para uma personalidade psicopática: a manipulação, a falta de empatia, a busca por poder e a incapacidade de sentir remorso. Daí a pesada condenação. Em maio de 2025, suas penas foram reduzidas a 50 anos com a possibilidade de liberdade condicional em 25 anos. Foi o que tentaram agora e podem pleitear outra vez daqui a três anos (ou em 18 meses, se tiverem bom comportamento).
O triste fato, retratado no livro Irmãos Menendez: Sangue de Família (DarkSide) e no documentário Monstros: Irmãos Menendez: Assassinos dos Pais (Netflix), desperta-nos para a redobrada atenção ante a manipulação que os psicopatas podem exercer: fazem-se de pobres vítimas e das verdadeiras vítimas seus algozes.
Por: Vanderlei de Lima é autor do livro Psicopatas: Quem são? Como agem? Que fazer com eles? (Ed. Ixtlan).
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